ANPAE: lócus de militância teórico-prática
Imprimir
LAURO CARLOS WITTMANN
Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.

A ANPAE tem sido para mim e para os que comigo militaram e militam um espaço social privilegiado. Numa época de desenraizamento territorial e temporal, vivemos o descarte dos provisórios. O terrorismo de grupos, implodindo as torres do capital, e o terrorismo de estado, retaliando e bombardeando os famintos, são a expressão trágica dos velhos valores. O novo que emerge é um presente eternal e um espaço desterritorializado. Este novo exige ética, cuja radicalidade é o respeito à vida, e exige solidariedade, cuja radicalidade é o respeito ao outro. A ANPAE tem sido um dos raros lugares de diálogo multilateral, onde o outro é respeitado pela alteridade, pela diferença e não pela concordância ou pela mesmice.

A ANPAE cresce como associação teórico-prática. Pela vinculação da prática associativa com o concreto, empapamos as mãos no cotidiano da construção de políticas, elaboração de planos, gestão de instituições e sistemas e avaliação da educação. Comprometidos com o concreto, evitamos a alienação na levitação retórica dos discursos academicistas. De outro lado, pela vinculação com a pesquisa não nos perdemos no sufoco do cotidiano, patinando no brejo do ativismo quixotesco.

As pessoas e suas organizações sociais são da mesma tessitura da sociedade na qual se constroem. Numa sociedade rachada e periférica, os educadores e suas associações tendemos a estar rachados e a ser periféricos. Ao mesmo tempo, pulsa em nós, como gente e como organização, o desejo, a resistência ao que é e a transcendência ao que será. Neste sentido é sempre presente, porque o passado invade a eternidade do futuro e o futuro está enraizado e já começou no começo do passado.

Como lócus de militância teórico-prática neste presente eternal e espaço desterritorializado, a ANPAE está comprometida com a emancipação humana, com a vida, com a solidariedade, com o pluralismo, com o multiculturalismo, com uma educação pública, laica, gratuita, estatal e de alta qualidade, especialmente para aqueles a quem tudo, até a educação, tem sido sistematicamente negado. Nos seus 40 anos, esta ANPAE somos nós, como militantes teórico-práticos, que, num processo dialético de contínua sobressunção, jogamos o passado na eternidade do futuro e construímos o futuro nascido da subsunção da eternidade do passado. Na ANPAE só dura o que passa, porque o que fica está apodrecendo. Esta ANPAE, mais instituinte do que instituída, mais anúncio do que dado, mais processo do que produto é uma expressão social da essencialidade humana que é sua transcendência, sua originalidade, a surpresa e o novo.
_________________________________________
Depoimento escrito em Florianópolis no dia 11 de fevereiro de 2001, por ocasião da celebração do 40º aniversário de fundação da ANPAE.